O Menino que Desenhava Monstros

Título: O Menino que Desenhava Monstros
Título Original: The Boy Who Drew Monsters
Autor: Keith Donohue
Editora: DakSide Books
Ano: 2016
Páginas: 256
Tradução: Cláudia Guimarães
Livro: Skoob
Sinopse:

Jack Peter é um garoto de 10 anos com síndrome de Asperger que quase se afogou no mar três anos antes. Desde então, ele só sai de casa para ir ao médico. Jack está convencido de que há de monstros embaixo de sua cama e à espreita em cada canto. Certo dia, acaba agredindo a mãe sem querer, ao achar que ela era um dos monstros que habitavam seus sonhos. Ela, por sua vez, sente cada vez mais medo do filho e tenta buscar ajuda, mas o marido acha que é só uma fase e que isso tudo vai passar.
Não demora muito até que o pai de Jack também comece a ver coisas estranhas. Uma aparição que surge onde quer que ele olhe. Sua esposa passa a ouvir sons que vêm do oceano e parecem forçar a entrada de sua casa. Enquanto as pessoas ao redor de Jack são assombradas pelo que acham que estão vendo, os monstros que Jack desenha em seu caderno começam a se tornar reais e podem estar relacionados a grandes tragédias que ocorreram na região. Padres são chamados, histórias são contadas, janelas batem. E os monstros parecem se aproximar cada vez mais.

Jack Peter é um garoto recluso de 10 anos com Asperger, uma síndrome semelhante ao autismo, caracterizada pelo nível alto de inteligência dos portadores e geralmente pouco tato social. Nick é seu único e melhor amigo. Os pais dele, Fred e Nell, são amigos de longa data dos pais de Jack Peter, Tim e Holly, e por conta disso eles praticamente cresceram juntos. Nick sentia falta de correr na neve com o amigo, mas ele nunca fora mais o mesmo depois de quase terem morrido afogados. Jack Peter desenvolveu Agorafobia, o medo do externo, então eles brincavam dentro de casa, sempre no comando de JP (ou Jip, como o pai o chamava).

O garoto não sabia ao certo se era uma casa na qual os sonhos se tornavam realidade ou se a casa em si era feita de sonhos. Houve um tempo em que essa expressão o deixava feliz, mas, em noites terrivelmente frias como aquela, os sonhos se transformavam em pesadelos, e os monstros debaixo da cama se agitavam na escuridão.

O vício mais recente de JP era desenhar monstros. Nick até entrou na brincadeira, desenhando criaturas famosas de filmes, mas JP desaprovava com firmeza; seus desenhos era uma arte pura, fruto de sua imaginação fértil. Seus monstros eram absurdamente reais e tenebrosos. E estavam espalhados por todos os cantos.

Os pais, que nunca compreenderam direito como tratar uma criança que surtava ao ser tocada e que tinha momentos off, como se algo o possuísse, consideraram seu interesse por desenho algo positivo e logo compraram um estojo de lápis para incentivá-lo.

O padre Bolden puxou-a para perto. Ele a fez pensar em um escoteiro junto à fogueira do acampamento, pronto para a emoção da história de terror a ser contada. "O que você quer dizer com fantasmas?"

Só que o clima na casa começou a ficar pesado, principalmente após Jack Peter ter socado a mãe ao despertar do sono, assustado. Holly não sabe mais o que fazer para ajudar o filho a melhorar e recorre a um padre, enquanto Tim insiste que JP está bem e irá sair dessa sozinho.

Vagarosamente, eventos sinistros passam a deixar Holly e Tim alarmados. As paredes soam, bebês rastejantes choramingam, um homem grande e branco como leite anda pelas ruas, um osso velho de criança é encontrado próximo ao mar. Seria tudo aquilo real? E o que teria a ver com eles? Porque de uma coisa eles tinham certeza, sendo loucura ou não. Algo estava tentando entrar na casa.



De todos os livros incríveis da DarkSide, O menino que desenhava monstros foi o que mais desejei. A capa é espetacular, e tanto o título como os dentes foram feitos em auto-relevo. A contra-capa também é maravilhosa e conta com algumas das criaturas rabiscadas. Diante desse capricho, eu esperava por ilustrações ao longo das páginas. Não contem com isso. Não tem absolutamente nem uma figura sequer. Todos os esboços significantes de Jack Peter estão na contra-capa. Chato, né? Estava tão ansiosa... Era o detalhe que faltava para tornar o livro perfeito. Fiquei bem chateada. Mas, porém, contudo, todavia, as últimas páginas são compostas por um espaço em branco para desenharmos nossos medos, nossas lembranças, nossas angústias, nossos sonhos. Legal, né? Só seria mais legal se eu soubesse desenhar.

Meus pesadelos: Desenhar só bonequinhos de palito.



A maioria das resenhas desse livro são negativas, criticando o tanto de descrições e o fato de a história ser arrastada. Talvez isso seja devido a termos um narrador mostrando o ponto de vista de vários personagens (Jack Peter, Holly, Tim e Nick) intercalados. Algumas cenas, inclusive, são repetidas, mas para mostrar o que o outro personagem pensou daquele momento.

Sinceramente, eu já li livros com beem mais descrições, então não achei nenhum exagero nesse. Em questão de ser arrastado, acredito que o mistério e a tensão traçada com cuidado tenha sido proposital. Todo esse passo a passo lento nos leva ao final revelador, que é dado num piscar de olhos. Alguns não gostaram. Eu achei típico de terror.

Só que o livro não é de terror. Pros medrosos de plantão, com certeza é. Não indico. Mas os fãs do gênero conseguem detectar a surpresa do final com facilidade. O desfecho se aproxima e você pensa: Eu sabia. São duas surpresas, na verdade. Uma eu já imaginava e a outra pude deduzir, mas ainda precisei de um tempo para digerir.

Seu pai fechou os olhos de novo e falou com uma voz calma e uniforme.
"Quem você acha que estava lá fora, Jip?"
Ele limpou a garganta e respondeu: "Um monstro"
"Só que monstros não existem, filho."
"Então, não sei."

Os personagens não são exatamente carismáticos, mas fica claro que cada um vive uma batalha interna. Assim como Jack Peter, são pessoas perturbadas, suportando seus próprios monstros, sejam eles físicos ou mentais.

O livro conta também com lendas japonesas e historias de naufrágio. Talvez algumas pontas tenham ficado abertas para a imaginação do leitor concluir, mas o principal foi explicado. Não é o tipo de livro pra ler numa sentada, mas é o tipo para devorarmos aos poucos. Se não se prenderem ao inicio, podem continuar porque garanto que vale a pena. O menino que desenhava monstros é curto e merece sua atenção. Só não se esqueçam de olhar debaixo da cama antes de *tentar* dormir.

Eles comeram como se estivessem famintos, entregando-se ao desejo, como se o simples ato de comer fosse sinistro, enquanto algo verdadeiramente sinistro estava ali fora, do outro lado da porta.

PS: Quero as ilustrações!! :((((
PS²: Vou colocar o link de uma resenha em vídeo que assisti e gostei muito. Sucintamente, ela ressalta todos os pontos importantes do livro.



Nota: 5

Sobre mim: Carolina Rodrigues, 21 anos, mora em Santos e cursa faculdade de Biomedicina. Adora dançar e ir pra praia, mas o que a faz realmente feliz é poder passar um dia inteiro lendo, vendo séries, escrevendo histórias ou ouvindo música.

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